terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eus e Vocês

As pessoas não tem coragem de ir até o porão por medo do frio e do escuro. Um lugar onde, que por mais que seja desconhecido, não deixa de existir. Às vezes o escuro, escuro aos nossos temores, nos traz uma surpresa deleitosa. O hábito às vezes nos torna importentes e mal acostumados, pois consequentemente, calmamente, nos contrapõe ao novo e a uma nova realidade. Mais vil é ser herói, lustrado, permanecer confortável e dá as costas ao desconhecido.

Nós, humanos, somos influenciados constantemente com tudo o que nos cerca. "São outros rostos, outras vozes interagindo e modificando você; E aí surgem novos valores, vindos de outras vontades; Alguns caindo por terra pra outros poderem crescer". Não que sejam valores abomináveis e que signifiquem falta de personalidade, tampouco rejeitável, é apenas uma substituição ou agregação de valores em um indivíduo. O novo (diga-se desconhecido), na maioria das vezes, é sedutor, basta entender e aceitá-lo, e não fazer o contrário.

Fomos ensinados que o homem é feito do pecado, que é menos do que ele pode ser e que devemos reprimir, seguindo um pensamendo errôneo, o que é considerado imoral. Seguindo esse raciocínio, as pessoas tendem a se reprimirem e não aceitar o que de fato é seu. "Essa tortura de si mesmo, essa zombaria da sua própria natureza, esse spernere se sperni (desprezar a própria abjeção), a que as religiões deram tanta importância, é propriamente um grau muito elevado de vaidade. [...] o homem tem uma verdadeira volúpia em violentar-se por meio de exigências exageradas e, em seguida, divinizar esse algo que comanda tiranicamente em sua alma. Em toda a moral ascética, o homem adora uma parte de si como uma divindade e, para isso, deve necessariamente diabolizar as outras partes". Existem vários eus? Sim! Somos o que a nossa multiplicidade nos permite ser. Somos uma constante metamorfose.

"Nem errado, nem certo
Nem bem, nem mal
Nem rico, nem pobre
Vencedor ou perdedor
Humilde ou soberbo
Apenas trilhando algo que é só seu
Dentro e fora de moldes
Criando outros clichês

Ouça a música e dance como um louco buscando por autonomia
Deixe seu coração bater
Não sinta vergonha, feche os olhos agora, guie sem as mãos
Deixe seu coração bater

Por liberdade e mais ação
Deixe seu coração bater
Por mais um sonho, outra mentira
Deixe seu coração bater" Autonomia (Dead Fish)


@caiquematos

domingo, 11 de julho de 2010

A vida é uma piada

"Nós vamos morrer, e isso nos torna os sortudos. A maior parte das pessoas nuncam vão morrer, porque nunca nascerão. As pessoas que podiam potencialmente estar aqui no meu lugar, mas que na verdade nunca vão ver a luz do dia, são mais do que os grãos de areia no Sahara. De certeza que estes fantasmas não nascidos incluem poetas maiores que Keats, cientistas maiores que Newton. Sabemos isto porque o conjunto de pessoas possíveis permitidas pelo nosso DNA ultrapassa em muito o conjunto de pessoas efectivamente nascidas. Na realidade destas assombrosas probabilidades somos tu e eu, na nossa mediania, que aqui estamos." É assim que Richard Dawkins encara a beleza da vida. Um dia iremos morrer, e todos nós sabemos disso. Não temos onde nos esconder. E viver? Quando nós nos permitimos viver? Só porque tivemos a sorte de estarmos vivos, significa que vivemos? Não é bem assim.
Muitas pessoas morrem bem antes do suspiro final. Vivem uma vida sem sentimento. Sem ousadia. Essas pessoas têm medo de arriscar, de sentir, de se expressar da forma que deseja. É ter a sorte de nascer e desperdiçá-la. Deixam isso de lado por acharem que estão velhos demais. "Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?", diz Confúcio. E também, na maioria das vezes, por se importarem com o que os outros vão pensar. Também existem pessoas que nos matam mesmo sem perceber. Nossos pais, por exemplo, que acham que só por nós sermos dependentes deles se acham no direito de afogar o que sentimos no nosso peito, como já dizia Raul Seixas. Outro exemplo disso é a sociedade podre que nos cerca com seus padrões, que foram decididos pela maioria, que impõem formas de pensar e agir. O que é bom pra você, talvez não seja pra mim. E vice-versa.
Me veio na mente um pensamento de Charles Chaplin que diz o seguinte:"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?" Sim! Seria perfeito. A ordem normal disso tudo é muito triste. Envelhecer e está nos momentos finais é muito triste. O pior é não ter vivido e morrer sem deixar uma história contada, apenas lamentada. Morrer é a pior parte da vida, mas as pessoas têm mais medo de viver do que morrer. Não basta existir, é preciso saber viver.
"Se a vida não é só uma piada, então por que estamos rindo?"

CAÍQUE MATOS @caiquematos

sexta-feira, 2 de julho de 2010

As palavras tem poder?

Na minha última aula de Literatura, antes do São João, a professora falou:"A palavra tem poder! Então, cuidado com o que vocês falam." e citou como exemplo o que aconteceu com a professora de Espanhol. Ela disse, antes de viajar, o seguinte:"Nem Deus me impede de fazer essa viagem!". Alguns dos professores e coordenadores que estavam presentes quando ela disse isso retrucaram e repreenderam. Falaram também que certas coisas não podem ser ditas. Ou seja, desaficar deus (com letra minúscula mesmo).
Na volta da viagem, o carro em que minha professora de Espanhol se encontrava sofreu um acidente. Um carro bateu na traseira, assim, causando a capotagem do carro. Duas pessoas morreram e outras duas ficaram feridas, inclusive ela. Segundo a professora de Literatura, isso tudo aconteceu por causa do que ela disse antes da viagem. Muitas pessoas concordaram com o que ela falou, mas eu imediatamente pensei ao contrário. "Seria esse deus um deusinho qualquer? Que mata inocentes, intolerante e mau?". Muitas pessoas acreditam que por (supostamente) ele ter criado tudo, como Adão e Eva, que comeram a maçã que ele mesmo deixou que colocassem lá, que por eles terem comido a maçã foram culpados e com eles o resto de toda humanidade inocente, e que tiveram vergonha de estarem pelados na frente um do outro (sendo que eles não sabiam nem o que era sexo.) Ah! Enfim... Acho que algumas pessoas já sabem meu posicionamento quanto a isso.
Ela também disse que palavra de mãe tem poder e que tudo que ela fala acontece. Bom, eu acho que não tem mistério atrás disso e que palavra de mãe (ou de ninguém) tem esse poder. As mães não são adivinhadoras, apenas já viveram tudo o que nós vivemos e vamos viver. O mundo é o mesmo e os problemas contidos nele são os mesmos. As mães sabem que "quem se mistura com porcos, farelos come" e que "quando o gato não está em casa, o rato passeia na mesa". Ninguém está isento de perigo. Por exemplo: Você ganha uma bicicleta nova, que nem andar direito você quer pra não gastar o pneu. Certo dia, sua mãe pede pra você ir no mercado e você vai com a bicicleta. Antes de você sair, ela diz: "Cuidado para não roubarem a bicileta! Se roubarem você não ganhará outra." Você não liga e vai assim mesmo. Você entra no mercado e deixa a bicicleta na porta, sendo que você mora em uma periferia bastante violenta, que quando "os zomi" chegam não querem saber quem é culpado ou inocente. Pé na porta! Quando você volta, sua bicicleta não está mais onde você a deixou. Por que será que ela vou roubada? Por que sua mãe previu que ela seria roubada ou por sua burrice por deixar uma bicicleta nova de graça para os ladrões? Qual seria a opção mais racional?
Tudo depende do que existe à sua volta. Certamente se fosse em um bairro nobre, a probabilidade da bicicleta ser roubada seria menor, mas não nula. Imprevisível é viver.
As palavras não possuem poderes. As pessoas, sim, tem poder sobre as suas vidas. Se uma pessoa diz que a vida dela será uma desgraça, ela será, mas não por causa das palavras, mas sim por causa do fracasso interno. Pelo que ela decidiu ser (ou não ser)."A ofensa é pessoal."



Caíque Matos @caiquematos